Rosas dos Ventos - Malu Assalini
PRÓLOGO
Durante a noite , no sossego do quarto novamente Dominic acorda num sobressalto, ele teve mais um pesadelo e isso havia se tornado constante nos últimos doze anos de sua vida. ele sempre acorda, olha a foto em sua cabeceira, deita e chora. mas hoje não! é dia sete de agosto,uma data especial. são seis da manhã. está chovendo e escuro como o seu coração, ele se levanta e vai ao cemitério.
Mais um dia que se passa sem elas. pensativo ele chega nos túmulos desejados, põe as mãos sobre as fotos naquelas lápides brancas e frias, sorri tristemente lembrando-se de quando era feliz ao estar com as doces joias que agora estão ali, e sentindo a culpa de anos se apossar dele, suspira e senta na grama lendo o poema preferido delas e deixa as flores no mesmo lugar.
Dominic retira o embrulho do bolso e coloca ao lado da lápide, onde em letras grandes a frase: "eternamente por nós amada" está entalhada...sorri e em sua mente vem o poema - O CORVO de Edgar Alan Poe - e antes de sair, as últimas lágrimas escorrem em seu rosto e com um sussurro diz:
-feliz aniversário de namoro amor. Apenas NUNCA MAIS....
mesmo que as lembranças de todos os anos felizes, com a única mulher que ele já amou, surgindo em sua mente: o aniversário de 15 anos dela onde dançaram junto e se apaixonaram; o primeiro 7 de agosto juntos no orfanato dos pais dela, quando eles morreram e ela chorava em seus ombros; a primeira vez deles, quando uma lagrima escorreu dos olhos dela; quando tudo acabou; o suspiro que dava sempre que lhe beijava o pescoço; o sorriso; as musicas, uma vida toda que sabia ter sido destruída por ele.
E mesmo sem saber por que ele foi até a casa de Milena, sua válvula de escape das culpas que o matavam, a policial assistente dele, que sabia o consolar da maneira certa, e mesmo sempre o cobrando de tudo, embora ele precisasse disso, hoje não suportaria ela dizer eu te amo, então liga o carro e deixa a musica tomar conta do espaço vazio, aquela musica que devia ter sido feita pra eles e foi embora desejando que aquele dia acabasse rápido, para que pudesse dormir e esquece-la novamente, se fosse possível.
E o som pertencente ao casal que um dia foram toca em silêncio e preenchendo o ar com seus sentimentos....
heaven/ paraiso ( bryan adans)
Oh - thinkin' about all our younger years«
There was only you and me
We were young and wild and free
Now nothin' can take you away from me
We've been down that road before
But that's over now
You keep me comin' back for more
Pensando nos nossos tempos de juventude
só existia eu e você
Éramos jovens, selvagens e livres
Agora nada pode lhe manter longe de mim
Já passamos por isso antes
Mas agora já acabou
E você continua me chamando pra mais
CAPITULO 1
Pés no chão, novamente estamos em nosso pais. Depois de doze anos longe desse lugar o vento que bate em meu rosto me traz as lembranças que por anos estavam adormecidas em mim. Cada palavra dita e cada falsa promessa feita nesse lugar. A dor e o sofrimento não me incomodam, mas o amor que persiste em me assombrar ainda existe e o sinto palpável no ar.
É dia sete de agosto, e como sempre, nessa data estou de mal humor. E não é nada legal estar de volta nessa data tão familiar e minha irmã Alex e eu tentamos adiar a viagem mas as circunstâncias não permitiram.
Mesmo estando em missão nesse lugar, ainda na Rússia decidimos que iríamos direto ao cemitério, ver nossos antigos eus . É, parece loucura você olhar para si próprio em uma lápide e dizer: eu morri mais ainda estou aqui. Mas essa foi uma medida necessária.
Quando eu e minha irmã tínhamos dezoito anos estávamos perdidas, teoricamente nossos pais estavam mortos, minha irmã revoltada morava sozinha na casa do tatuador pra quem ela trabalhava e eu uma patricinha nata na época estava na casa de minha madrinha junto com os dois filhos dela.
Eu tinha o sonho cor de rosa, Dominic o filho da minha dinda era meu namorado desde os quinze anos de idade, ele sendo um ano mais velho que eu, tinha dezenove e a irmã dele Evaliz ou Eva como ela preferia ser chamada, tinha dezoito. Nós éramos muito grudadas, até por que a maior parte de nossas atividades eram feitas juntas.
Nossa vida era cronometrada, eu tinha aula de línguas às segundas e quintas, tae-kwon-do às terças e sextas, dança às quartas trabalhava como voluntária no laboratório de informática da faculdade, aos sábados e aos domingos na manha me dedicava ao orfanato que fora de meus pais, sempre sendo a filha e a menina perfeita que todos esperavam que eu fosse. Até que tudo mudou da água pro vinho, me levando a fazer escolhas difíceis, mas me recuperei. Era o certo e, assim descobri que não era nada mal não se ter alma, nem coração.
CAPITULO 2
Chegando ao cemitério tínhamos apenas vinte minutos antes que descobrissem nosso desvio de rota, e rapidamente caminhamos lado a lado em silêncio pelo lugar. As lápides no chão pareciam flores de pedra branca, todos em fila estrategicamente colocados sobre a grama, escondendo corpos, mulheres e suas almas, famílias e suas dores, cicatrizes nunca vistas, medos nunca ditos. O vento gelado trazia a sensação mórbida de segredos e almas que queriam gritá-los.
Nunca se deve entrar num espaço carregado de dor, sem estar preparado para a carga emocional que irá desabar sobre nós. Embora tenhamos entrado em um acordo com a dor e as lágrimas há anos, minha irmã nunca foi de cumprir as regras impostas, e sempre teve que pagar por isso. Certamente se nosso mentor Olavo a visse agora suspirando pesado, com os olhos vermelhos estreitos, segurando o choro que certamente irá cair sem permissão, ela levaria outra surra.
Nossas lápides brancas estavam ali à nossa frente, lado a lado, como sempre unidas, como a de nossos velhos pais e me dói ver aquele túmulo e, saber que seus corpos agora verdadeiramente mortos não estão nem perto desse lugar. Seu descanso eterno foi dado pelas mãos de quem eu menos esperava há quatro anos atrás. Tiros, maldições e fogo são tudo de que me lembro naquela noite, quando Nickito tirou a vida dos corpos deles.
O silêncio só se quebrava pelo vento das árvores, quando minha irmã se abaixou para passar a mão pelas flores que estavam entre os túmulos, rosas vermelhas e orquídeas roxas num buquê enorme fazendo jus aos nome ali escritos: RUBI e AMETISTA ROSA DE MEDEIROS. E erguendo a sobrancelha, ela me observava sorrindo.
-Ravenna - ela fala num tom baixo- alguém lembra da gente ainda
-Humf bobagem- digo olhando pro chão- isso são só flores
- flores e algo mais- ela diz apontando pra um espaço no chão ao lado da lápide
-o que é isso ?- pergunto me aproximando
-acho que é do Domi - ela sorri - ele ainda te ama menina.
- já chega - grito para ela e me viro, dando de cara com a agente 07 - hey o que você tá fazendo aqui ?
- Olá agente 03. agente 04- ela meneia com a cabeça - quebrando regras como sempre não é ? - ela sorri - não aprenderam nada nesses anos ?
- aprendemos a chutar as bundas de uns caras - Alex diz sorrindo- e.... minha coleção de venenos aumentou- sorrindo maliciosa ela chacoalha um frasco na frente de 07- e esse é o seu !
- menina de ouro - 07 sorri
-e você agente, como vai a coleção de agulhas ?- pergunto
- ah ela está linda- ela me olha - ganhei uma de 3 pontas - ela imita o tamanho entre os dedos- maravilhosa pra tortura rápida .
- uau, essa eu quero ver - alex diz
- mostrarei tagarela ! - responde 07 - e a sua coleção de facas gênio da computação ? - ela me provoca mais sorrio.
Minha vida na organização se resume a colecionar facas e espadas, meus bebês. São tudo que tenho por conta própria, a cada missão consigo uma nova, e as uso como ajuda, elas são pequenas e me ajudam muito na hora da ação. Já meu segundo maior triunfo na organização é minha habilidade em computação, sou uma hacker permanente desde os 19 anos,e eu não me arrependo de ficar fuçando no que não me pertence, faz a arte de ser agente em algo grande, como a nossa equipe.
-digamos que estou com sorte -digo - consegui uma faca BLACK WIDOW novinha- me gabo.
-sua bastarda...que sorte! - ela ri - ouvi dizer que essas são as melhores na hora de cortar -ela comenta
-são sim - respondo
- o.k meninas o papo tá bom e eu adoraria matar a saudade mas, temos uma missão e creio que devemos ir para o nosso Galpão agora.
- claro agente 07 - digo calmamente me lembrando do motivo por estarmos aqui.
- e o capitão Toledo como vai agente ? - alex provoca.
-logo vocês verão , agora vamos !-
E assim saímos do cemitério em silêncio, deixando pra trás aquela velha carapaça que nos cobria. Uma vez ouvi dizer que mesmo viva você pode estar morta, é só uma questão de querer esquecer a sua vida como um todo.
CAPITULO 3
Pegamos um caminho de terra e viajamos de carro por ele cerca de 6 horas, até que chegamos a uma pousadinha na beira da estrada. Lá a agente 07 disse que passaríamos a noite, e no dia seguinte bem cedo sairíamos para continuar.
Depois de entrarmos no lugar, percebemos que era uma base disfarçada da organização, e haviam várias das Agentes e aspirantes as quais nós já trabalhamos ou estávamos ensinando. Sorri ao ver a minha amiga Ellektra, esse não era o nome dela mas como todas devemos ter "codinomes" ou "nomes usáveis" como chamam dentro da organização, ela decidiu usar esse. Ela tinha 13 anos de idade quando foi recrutada e eu nos meus 21 estava aprendendo com os erros e literalmente com tombos. A primeira vez que a vi me identifiquei: ela era lindinha com aqueles olhos enormes verdes e com o cabelos ruivos e a pele branca, uma princesa, decidi ali mesmo que o lugar dela era na minha aula de computação, e assim nos tornamos amigas, hoje ela tem 25 anos e eu 30, me sinto uma velha só de imaginar.
Não sei por quanto tempo me distanciei da realidade quando sou trazida de volta por dedos estalando em minha face.
-planeta terra chamando Raven !- a voz doce de Elle me acorda.
- oi.. ellektra, quanto tempo -digo envergonha.
-onde você tava amiga ? - ela sorri e me abraça, eu retribuo.
-em lugar algum - digo
- tudo bem... mas então me conta tudo o que te traz aqui - ela pergunta.
Aí que eu começo a explicar tudo, e a situação é que há um ano atrás enquanto estava em missão pela organização a qual chamamos TRÓIA, eu acabei hackeando um sistema errado, o qual não deveria estar na lista de perigos, mas acabou se tornando, e, tudo se tratava de um plano para iniciar a 3° guerra mundial e o fim do mundo como conhecemos.
Embora nossa equipe seja levada em conta por todas as maiores equipes policiais do mundo, nós não somos policiais. Na verdade trabalhamos como as "ong's ", nosso chefe um ex fuzilista dos Estados Unidos fundou a TROIA para acabar com a corrupção e todos os crimes de Colarinho branco, que são todos os dias encobertos pelos governos mundiais, e exatamente por isso estudamos e, pesquisamos por um ano sobre essa equipe, para saber se era possível ser verdade. E era!
Assim decidimos colocar em prática o plano de vir ao nosso país e conseguir ajuda.
-e vocês têm certeza que eles irão ajudar? - elle pergunta quando termino de falar.
-temos - digo firme- o Brasil pode não ser o melhor em segurança e nem com as equipes da policia, mas é onde nós temos mais agentes infiltrados - falo orgulhosa- e mais algumas coisas.
-certo, você tá falando da família Chateaubriand - ela diz - Dominic, Eva e Alexandre não é ?.
- sim- suspiro.
Nesse momento Alex entra no quarto e nos diz para jantarmos e tomar um banho. Logo deveríamos dormir e como Elle estava no meio do plano teríamos tempo para conversar. Então fizemos isso, a manhã chegou rápido e seguimos viagem até minha cidade, situada no Rio Grande do Sul, minha terra natal. Estamos de volta realmente, chegou a hora de rever aquele homem.
CAPITULO 4
Chegamos à cidade de Gramado pouco antes das quatro da tarde. Havíamos parado apenas para comer em um restaurante pequeno na beira da estrada antes de chegarmos, e ao entrar na cidade seguimos por um caminho que nos levou a uma fazenda afastada do centro. Era tranquilo e bonito, e a casa seguia o estilo europeu assim como me lembrava.
A casa da fazenda , à qual 07 chamava de galpão base, era enorme e todos os móveis e quartos eram claros como os da base russa e mantinha câmeras em todos os cantos. A sala tinha uma lareira e uma tv conectada à câmeras externas, a cozinha dispunha de um fogão à lenha além do comum, armários feitos de tijolo e que são embutidos na parede e vários utensílios de metal pendurados. Haviam 5 quartos e 3 banheiros, um celeiro, como se fosse uma fazenda normal, mas no fundo havia uma academia pra treino de luta, uma sala de computação com notebooks e tablets de última geração, havia uma cozinha para minha irmã fazer seus venenos e uma sala de tortura à moda antiga.
No começo apenas descansamos , mas depois de um dia todo, a agente 07 nos explicou tudo que faríamos rapidamente e, se foi. Ela era uma das agentes infiltradas na sede da força tática e teria que voltar para o QG, antes que desse na vista que algo estava errado. Nós seguiríamos ali por uma semana, formulando os nossos dossiês, para apresentar aos agentes policiais, quando nos fosse dada a chance, junto com isso aproveitamos para treinar, dar uma olhada nas fichas dos policiais e discutir com Elle e Michel, outro agente que estava conosco na casa, como seria feito para eles aceitarem nos dar a liberdade em troca de ajuda, afinal somos procuradas.
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